quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O mundo da capoeira

O mundo da capoeira é cheio de surpresa, é um coletivo de sabedoria. Quanto mais você ensina muito mais você aprende. Quanto mais você se doa muito mais você recebe.
E em relação aluno e professor, grupo e alunos, por mais que vocês tenham afinidade, é como água debaixo da ponte, vai uns vem outros. É como os mestres da capoeira, eles não podem ficar aqui pra sempre.
Mas eu gostaria que o meu trabalho na favela nunca perdesse sua raiz, porque é um lugar real de vários acontecimentos e de maiores casos de injustiça. E que nunca fosse pra engrandecer a ninguém, a não ser o valor sentimental.

Podemos julgar aquilo que não conhecemos?

Qualquer trabalho depende de incentivo. Mas ao contrário de receber incentivo temos que enfrentar preconceito de membros da própria espécie. Ou seja, alguém que nunca chegou perto pra saber de qual forma é realizado o trabalho.
Sendo que o trabalho é aberto a todos. será que podemos julgar aquilo que não conhecemos? Devemos ser claros pra toda comunidade apresentando o trabalho, mostrando em que parte ele é cultural. De qual forma ele se enquadra no esporte e quais são os vínculos com a religiosidade africana. Toda a musicalidade da capoeira angola tem seus laços africanos ou afrodescendentes.

Maré baixa na comunidade - (27/05/2011)

Só pra lembrar, o meu trabalho com as crianças existe desde 2004. Pouco mais de dois anos em que eu treinava capoeira angola, porque comecei em 2002. Ainda treinava regional.
Em 2005, já tinha uma galera treinando comigo, só tinha criança. Em 2006, alguns estudantes mandaram um projeto pro programa que se chama PIBEX, que funcionou em 2007, mas não foi aprovado pra 2008. Até então, eu só puxava treino pra criança. Quando o meu professor visando que eu era nativo e o cara que treinava o dia todo com ele, me entregou a coordenação do grupo. Tendo ele que se afastar por motivos particulares e com isso também se afastou muitas pessoas, porque não estava mais a fim de ficar por falta do professor, né.
De lá pra cá muitas conquistas!!! Muitas quedas!!! E muito aprendizado também. Bom, sem rodeio!
O que interessa é que todo o tempo não é um e me vejo nas condições de começar o trabalho de novo, porque os alunos cresceram. Muitos já encontraram sua ocupação e outros não treinam mais por falta de motivação. É falta de incentivo da comunidade? É falta de apresentar melhor o trabalho na comunidade? Me passa muitas coisas pela cabeça de menos desistir agora. Eu preciso treinar, eu preciso buscar, eu preciso ficar. Sozinho mesmo sentindo saudade de todos. Tudo já está em andamento, ontem aconteceu a primeira roda na casa da paz depois da passagem do mestre.
Todo o grupo estava reunido, foi uma grande roda de capoeira angola. Toda roda é uma roda. Esta roda foi diferente de todas as outras devido a mudanças no jeito de treinar os alunos, ensinado pelo mestre Marcelo Angola. Ensinamento que devo levar comigo pra essa nova caminhada na capoeira angola.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Minha história, minha capoeira

O meu nome é Daniel. Eu cheguei na capoeira em 2000, no Alto dos Amoras com um mestre da capoeira da cidade. Eu cheguei pra ver e conhecer a capoeira, porque só ouvia falar mas não sabia o que realmente era. Então eu conheci a capoeira regional. Mas o que me encantou mesmo e me segurou lá foi a ladainha que o mestre cantou e que eu nunca mais esqueci.
É bem assim:

Ladeira do pelourinho eu não gosto de passar
Lá viveram grandes mestres saudade me faz lembrar
Ao passar na rua Alfredo Brito que fica ali no pelourinho
Foi lá que vi um velho triste sentado em um banquinho
Eu me aproximei dele fiquei sem jeito pra falar
Velho mestre o que foi que aconteceu
Ele me respondeu chorando
Mestre Bimba morreu
Perguntei qual é seu nome
Ele então me respondeu
O meu nome é Pastinha
Na roda era Bimba era Eu
Hoje se encontra Bimba e Pastinha na casa do grande Deus
Camaradinha
Iê viva meu Deus
Iê viva meu Deus, camará

Esse foi meu primeiro contato com a capoeira e, então, comecei a treinar. Eu não ia muito para as rodas de capoeira, porque sempre aconteciam no momento em que eu estava trabalhando, mas com o tempo passei a frequentar. Escapava do serviço e ia treinar ou jogar quando era dia de roda. Teve um tempo que a casa tava cheia e quase num tinha espaço pra treinar na quadra de cima. Então, eu olhei na quadra de baixo e tinha um cara treinando pesado lá... e resolvi me aproximar e perguntei assim: por que você está treinando aí? E seus movimentos são muito diferentes!!! Ele então me disse: é capoeira angola. Aí eu perguntei de novo: eu posso treinar com você? Então, ele sem muito interesse disse: tudo bem, mas é muito diferente do seu treino lá com o mestre. Eu disse: tudo bem, eu gosto da maneira que você treina! Aí ele disse: você treina comigo então, mas venha preparado pra treinar!!! O cara não gosta muito de conversar, mas o treino dele é muito bom!!!